Amanhã

by - domingo, julho 14, 2013

Quando retomei consciência demorei um pouco até me dar conta do tempo que tinha estado fora do ar. Não sabia muito bem o que tinha acontecido nesse meio tempo onde me perdi em pensamentos. A razão nos faz dessas, ter devaneios e ficar por tempos confabulando sobre o que aconteceu  e, pior de tudo, o que talvez possa acontecer. Minha mente é campeã em pregar peças e me deixar, de alegre a irritada, somente pensando e pensando, como se fosse possível ter emoções dessa maneira. Sofri por antecipação somente esperando o dia que estava por vir. E agora, ali, parada, como se o mundo tivesse por instantes parado naquele segundo, sabia que o dia de amanhã iria demorar.
Sem saber ao certo o que esperar, me livrei daquele momento e saí em rumo ao dia presente. Viver cada dia como se fosse o último, é isso que dizem. Pois bem, vamos ao dia de hoje. Por cima, lembrava que tinha que passar na loja da dona Flor, que tinha uma surpresa para mim e na casa da Betina para passear com o cachorro. Resumindo, essas eram minhas tarefas após o almoço.
Decidi que o cachorro tinha prioridade, já que não tinha certeza se os intestinos caninos em discussão estavam regulados, preferi não deixar na mão da sorte a casa ficar limpa ou não. Toff, o cão em questão, me recebeu com um latido baixo, grave e de rápido reconhecimento, sabendo que estava ali para alimento, passeio, um breve afago e nada mais. Adoro passeios com cachorros, na verdade, adoro como eles veem as coisas, tudo é muito alegre, muito divertido, coisas que você  não vê utilidade, se torna um brinquedo extremamente curioso. Verifiquei se não faltaria nada de urgente para Toff e me dirigi a porta. Antes de sair, recebi o mesmo latido da entrada e com uma breve reverência, nos despedimos.
Tudo pronto, rumei a loja de dona Flor. Um senhora muito amigável, que tem um sorriso fácil no rosto e me chama de "querida" com amor em cada sílaba pronunciada, que faz você ver flores em volta de sua cabeça. Possui uma lojinha na esquina da rua de baixo, onde pode, com toda sua destreza, exibir suas obras em miniaturas feitas á mão. Tudo na loja tem sua marca registrada, não há nada que você compre que não exale o amor que Florência Soares tem para oferecer. Apenas não esqueça de chamá-la somente de Dona Flor. Ao chegar na porta fui recepcionada por sua ilustre presença, dizendo que estava com saudades de nossas contínuas horas sentadas no seu terraço tomando chá e falando sobre coisas miúdas. Não posso dizer que não sentia falta, mas um dos motivos que me fez diminuir a frequência de visitas era, justamente, aquilo que esperava se concretizar amanhã. Lembrei a mim mesma que esse assunto era proibido por enquanto e que pensar nisso só me traria mais angústia para hoje.
Sacudi esses pensamentos e passei para o aposento atrás da loja, onde encontrei Dona Flor segurando, em uma mão, um prato embrulhado num pano branco, que pelo cheiro agradável deveriam ser os meus biscoitos favoritos, e em outra mão, um saco plástico com algo que não soube identificar. Prontamente, ela estendeu o prato e, com um enorme sorriso, disse que sim, eram os biscoitos. Fomos até frente da loja, eu com os biscoitos na mão e ela com o saco plástico ainda não identificado. Dona Flor, parou por um instante, olhou para o céu, que exibia um enorme azul celeste sem nuvens e um sol brilhoso. Ela pareceu gostar de ficar olhando para cima e sentindo o sol queimar a pele, enquanto eu a olhava ainda curiosa de saber o que viria a seguir. Com a mão que estava livre, ela abriu o saco e, para minha surpresa, tirou uma muda de planta, que fui saber depois, tinha o nome de Alecrim. Suas palavras foram: "Estou dando a você apenas uma muda para que você possa começar uma pequena horta em sua casa e não se sinta tão só naquele lugar". Primeiramente não entendi o que aquilo significava, mas alguma coisa no seu olhar me fez ver, consegui visualizar tudo tão rápido e num estalo percebi, Dona Flor sempre soube o que se passava comigo, mesmo eu não contando tudo, aquela senhora tinha um sentido incrivelmente aguçado. Ela sabia que amanhã era um dia decisivo, sabia que muita coisa dependia do que iria acontecer e que eu estava me afastando para não precisar dividir minha possível tristeza.
Saí da sua loja o mais rápido possível, apesar de agradecida e tomei um rumo qualquer, sem saber muito bem aonde estava indo, o que tinha certeza era que o relógio não estava a meu favor e não sabia, nem de perto, esconder meus sentimentos. Me vi novamente, parada e perdida em pensamentos. Fiz o  mundo parar mais uma vez no mesmo dia.

You May Also Like

4 calcinhas

  1. nossa... vc escreve bem... e pra caramba! gostei...
    não é td dia que entramos em um blog e vemos conteúdo de qualidade! hj em dia é só resenha de maquiagem e foto de sapato hehehehe
    bjos :)

    ResponderExcluir
  2. Hahaha deu pra entender direitinho sim Sharon! E como eu disse, daqui há alguns anos com certeza vou achar algum "defeito" no meu post e fazer uma remodelagem. Que bom que sempre procuramos evoluir para melhor, não é mesmo?

    Sharon, menina, você escreve muito bem! Adorei esse texto, vai ter continuação? *-*

    ResponderExcluir
  3. Olá, venho lendo e seguindo seu blog à algum tempo, e hoje me surgiu a oportunidade de indicar blogs que gosto para o selo Selo The Versatile Blogger Award.
    Indiquei o seu, passa lá!
    http://senhoritaestelar.blogspot.com.br/2013/08/selo-versatile-blogger-award.html

    ResponderExcluir
  4. Sharon *---*
    Ahh, eu sei desse 365 Project, ainda não aderi ahuaha, quem sabe, eu acompanho o seu projeto, e acho as suas fotos lindas :D

    AMEI O LAYOUT *-----------*
    Uau, você escreve muito bem sharon, adorei a história, e já fiquei imaginando a dona flor! ahuahuau
    parabéns, ficou lindo!
    pergunto a mesma coisa que a gabi, vai ter continuação? *-*

    beijinhos :*
    japona.mairanamba.com

    ResponderExcluir